segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ainda penso naquele dia, o dia em que a minha vida mudou. Foi preciso deitar tudo para trás das costas e seguir em frente cega e sem memória, para que as minhas mãos tivessem força para lutar e os meus pés força para seguirem em frente.
Antes disso, a minha vida era uma tentativa de morte. Lembro-me como se estivesse a percorrer o mesmo caminho hoje, como se estivesse aprisionada às mesmas fortes correntes. Ao chegar da escola sentava-me no chão ao lado da cama e punha-me de cabeça para baixo - "Mais um dia de uma vida inútil" - pensava eu.
Levantava as mãos e colocava-as em cima da cabeça e chorava como nunca tinha chorado, a pensar que não queria mais viver. Então levanto-me, mal podia de tanto sofrimento e choro, pagava na corda que o meu pai me dera quando ainda era pequena e fazia dela um bom instrumento para acabar com o sofrimento.
E foi assim vezes e vezes sem conta, tentando enforcar-me no meu próprio quarto.
É mau quando se olha para trás e vê-se um passado queimado, sem felicidade, quando se olha para o presente como uma forma de fugir ao futuro e quando o futuro não existe, ou não queremos que exista.
Então a rotina era sempre a mesma, eu a tentar dar fim ao que ainda restava de mim e os outros constantemente a pressionar-me para ser melhor e melhor, trazendo sempre um olhar de desilusão direccionado para mim, sempre que eu abria os olhos.
E o meu irmão... esse que já me tentou matar várias vezes, por achar que sou uma ameaça aos olhos da nossa mãe, esse sempre que podia queimava tudo à minha volta, para que eu não pudesse fugir, para que ficasse imóvel, intacta, sem poder fugir à dor, deixando-a cada vez maior.
Mas tudo mudou, este ano levantei a cabeça e apesar de ser mais apunhalada do que o ano anterior, estivesse sempre de pé.
Caía sim... mas levantava-me logo e o medo de voltar a sofrer como antes, aumentava, o medo de voltar a ser como era.
Até que mudei de escola em Janeiro, entrei no meu novo destino. Quando menos precisava, alguém especial entrou no meu coração. Já não a via à algum tempo, mas um segundo serviu para prender o meu coração como ninguém jamais o tivera feito.
O meu coração parou, deixei de respirar, e durante um segundo senti a felicidade a correr nas minhas veias. Bastou um olhar lhe para me apaixonar até aos dias de hoje.
É impossivel simplesmente descrever como me sinto quando olho para ela, quando estou com ela, porque nunca me senti assim. Tão misteriosa, que só me faz querer saber mais e mais, tão bonita, que só me faz querer ficar a olhar o resto da minha vida sem parar para os seus bonitos olhos.
E sim, já se passaram 7 meses, mas ainda chamo o teu nome todas as noites, ainda choro por ti, como estou a chorar quando escrevo estas simples palavras que para ti são insignificantes.
E sim, apesar de saber que não sou nada para ti como já me disses-te, tu és tudo.
Eu só queria que te um dia te virasses e me visses a chorar por ti e aí soubesses que eu existo, não interessa o que já sofri, pois o teu olhar cura toda a minha dor, mas por favor... eu estou aqui, eu existo.